segunda-feira, 18 de abril de 2011

Amarelinha - Saudades de uma Soldadinha de Chumbo


Amarelinha era incrível. Sério, era uma cadela incrível. Fora um dos primeiros animais recolhidos por Nice. Eu acho até que as duas se pareciam na personalidade. Valentes, fortes e destemidas. Não se espante se eu te disser que essa cadela era deficiente. Foi muito triste vê-la apela primeira vez... Acidenatada, ela perdera o movimento das patas traseiras. Gostaria de falar-lhes que ela era bem comportada, ficava deitada o dia todo, quietinha,mas Amarelinha não era assim.
Ela era a única deficiente que eu vi, que ficava solta pela Ama. Era como se ela não fosse deficiente e não se arrastasse dolorosamente pelo chão. Porém, era evidente que uma hora ou outra, sua condição a faria parar.
Eu gostava de ver Nice fazer-lhe os curativos nas patas. Nice recomendava-lhe: Não fica arrastando por aí. Por que você não aceita ficar no canil????
E Amarelinha fazia uma cara engraçada, como uma crianaça que recebe uma bronca. E, momentos depois, lá estava ela, andando pelos corredores da Ama, latindo ferozmente quando algum estranho batia noa portão.
Um dia, olhei pra ela e pensei comigo: Amarelinha parece um soldadinho de chumbo. Imponente, digna... e com um problema na patinha. Um dia, conseguimos marcar sua cirurgia: uma das patas estava seriamente machucada, havia se formado um buraco entre os dois ossos e ela teria que amputar. Pensamos que aquilo lhe traria um alivio grande pois a pata lhe dificultava arrastar-se.
Marcou-se a cirurgia e lembro-me da ultima vez que a vi viva. Ela estava na casa de Rosa, preparando-se para ir pra clínica. Fiz pela ultima vez os seus curativos, feliz, pois sabia que ela ficaria bem, ficaria melhor.

Minha tristeza foi chegar na casa de Nice e receber a notícia de que ela acabara de morrer (isso sempre acontece comigo). Estava no quarto de Nice, pois ali receberia maior atenção com o pós operatorio. Mas lá estava ela, a minha soldadinha de chumbo, já sem vida. Apesar de todos os cuidados, ela morreu. Seu pêlo amarelo eu alisei pela ultima vez. Meu coração doía, mas eu queria acreditar que ela estaria melhor agora... beijei sua cabeça pela ultima vez e despedi-me dela. Com a mesma tristeza, vi Nice lamentar sua partida. Estávamos para sempre, de luto por ela.
A imponencia dela parecia dizer que ela estava sempre olhando adiante do que a gente olhava, sempre a frente, sempre sem olhar pra trás.
Hoje, depois de anos que se passaram da sua morte, eu sempre sinto meu coração repleto de coragem e bravura quando lembro dela. Por ela, muitas vezes, meu coração fraco e humano tornou-se um verdadeiro coração valente. Olhar pra trás? Só se for pra lembrar de animais magníficos como ela.

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